quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Em uma vida de couro marrom

Era o terceiro cigarro da noite e o último ainda melhor. Entre um dia e outro, entre uma vida e outra, fumava para espantar a solidão que a fazia temer e tremer de calafrios às 2h da manhã. Era a companhia que não tinha. O cigarro a fazia entender que não se fazer nada é também contemplação. É sentir sem ficar triste. Sentada em uma poltrona na varanda, de frente com a lua e aquele céu azul oceano. A estrela mais brilhante não estava lá, como muitas outras estrelas e pessoas também não estavam. Sem um nome específico, apenas ninguém (ou alguém). E era o momento onde poderia tentar de tudo, até suicídio – se isso passasse pela cabeça. Decidiu fazer círculos de fumaça com o gosto do cravo que adocicava a boca. E, ao pensar apenas na perfeição das auréolas, ela se sentiu meditando. A nicotina veio em sua cabeça como uma droga que dopa e enxuga os vestígios de lágrimas que ousavam se formar em abundância. Agora, vê a fumaça saindo de sua boca e só.
Mas o transe se esvai quando um pequeno animal desce pela parede. A menina demora a entender o que deveria ser feito. A doce ilusão do não viver acabou e ela mata a barata.
Era uma das primeiras vezes que não saía desesperada gritando pelo nojo. A solidão faz isso com as pessoas (se não eu, quem?). A fumaça, a auréola, a lua e o não pensamento: o que um acontecimento inusitado não estraga?
Mas foi intenso enquanto durou, assim como tudo na vida dela – das duas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Voltei a te amar. E fumo por ti.

Geovanni Ricardo Baratieri disse...

Quase fumei junto.
Me fez Pensar!

lisspow disse...

Quase fumei junto. [2]