Dia 26,

Pinto flores todos os dias, mas apenas em um, a flor é negra.

O jardim que floresce a cada primavera, e no inverno, outono e verão também, me traz ânsias de viver. Em cada época, porém, as flores são diferentes. Retirando a rotina de meus pincéis.

Mas um novo ano se aproxima e as flores estão perdendo a graça da repetição.

Mesmo assim, olhar pela janela nas manhãs claras rejuvenescem a alma, e o sol ajuda na pintura de cada pétala. Todo o trabalho, refeito toda manhã, é custoso, mas edificante, ao contrário daquele que vejo pela frente depois das flores.

Se não fosse a chuva da madrugada, não pintaria flores. E essa banalidade parece que está para acontecer. Pois a nebulosidade não vejo hoje.

É noite, e vejo estrelas.

As flores, amanhã, estarão podres. Cinza de cores. Pelo menos, as estrelas que antecedem a tragédia me comovem. E ainda há tempo de uma cadente aparecer e trazer meu pedido de chuva.

Ah, mas isto é impraticável.

Resta-me acabar com o meio tom entre paz e temor, e terminar de escurecer minhas flores. Amanhã.